Edição e Produção de Vídeos: Renato Rocha Prado
Revisão de Conteúdo: Isabel Franson
Sumário do Artigo
Definição técnica*: Renda Fixa, é uma categoria de investimentos, aplicações financeiras, que tem um rendimento que pode ser pre determinado (taxa de juros), prazo de duração (vencimento), um emissor (quem vende o ativo), baixa volatilidade (poucas surpresas nos valores), baixo risco (probabilidade de perder dinheiro), garantias (FGC em alguns casos) e sempre são associados à Títulos de Dívida (toda Renda Fixa é uma forma de empréstimo no qual o Emissor é quem pega o dinheiro emprestado e o investidor é quem dá emprestado o dinheiro e recebe os Juros), portanto, seu principal fator de risco é o risco de Crédito.
Exemplos de Ativos de Renda Fixa no Brasil: Poupança; Títulos de Dívida Bancária (CDB, LCA, LCI, LF, LH); Títulos de Dívida Privada (CRA, CRI, Debêntures); e Títulos Públicos (LTN, NTN-F, NTN-B, LFT).
Características da Renda Fixa: Emissor, Prazo de Duração, Liquidez, Indexador de Rentabilidade, Periodicidadede e Forma de Remuneração, Garantias (opcional), Proteção do FGC (no caso dos Títulos Bancários), Tributação de IR na fonte (salvo execeções que são Isentas), IOF nos primeiros 30 dias em caso de resgate antecipado e Aplicação Mínima.
Exemplo simplificado de Investimento em Renda Fixa: Uma aplicação de CDB emitida pelo banco Aurios, com aplicação mínima de R$500 e máxima de R$5000, oferece uma rentabilidade de 200% da Taxa D.I. por um período de 60 dias, com Liquidez no Vencimento, conta com cobertura do FGC e com tributação de 22,5% de IR sobre o lucro financeiro.
Tabela de Tributação de IR na Renda Fixa (Junho/2021)
Tabela de Tributação de IOF na Renda Fixa (Junho/2021) Em caso de resgate antes de 30 dias
Explicação do Economês da F Fatorial:
Renda Fixa é o nome dado para um determinado grupo de investimentos que possui uma série de características bem definidas, na sua maioria são investimentos com baixo risco, que dificilmente dão retorno menor do que 0 – ou seja, prejuízo –, são relativamente fáceis de serem realizados pois muitos deles são ofertados pelos bancos e corretoras nos seus websites e aplicativos. Além disso, alguns deles exigem um conhecimento menor para serem feitos, se comparados à Renda Variável e a sua tributação ocorre de forma automática na fonte.
O mais famoso ativo de renda fixa é a poupança, mas ela é de longe a pior aplicação da renda fixa em termos de rentabilidade, porém, é a mais fácil, famosa e acessível, motivo pelo qual todos começam por ela e a grande maioria só fica nela. Mas na renda fixa temos diversos ativos mais rentáveis e até mais seguros do que a poupança, como o CDB, as Debêntures ou os Títulos Públicos.
A renda fixa possuí diversas características, porém, para compreender bem o seu funcionamento precisamos entender apenas 3 delas, todo ativo de renda fixa possuí essas três características: Emissor, Indexador de Rentabilidade e Duração.
Emissor
Acontece que todo ativo de renda fixa deriva de um título de dívida, isso quer dizer que quando você investe em renda fixa você está comprando uma dívida, ou seja, está “emprestando” dinheiro para alguém, esse alguém que é quem pega o seu dinheiro emprestado é o Emissor.
“O Emissor é quem vende, quem emite o título de dívida, saber quem é esse emissor é fundamental, pois vai determinar o Tipo ou Categoria do ativo de renda fixa”
Isso é importante pois existem apenas 3 categorias de ativos de renda fixa, cada um com suas características particulares e o único jeito de saber a categoria ou tipo do ativo de renda fixa é saber quem é o Emissor.
As categorias são: Financeiro (Bancário), Privado e Público.
Financeiro são os títulos de dívidas emitidos por instituições financeiras bancárias ou não bancárias, seus principais ativos são: CDB, RDB, LCA, LCI, LF, LC e LH.
Privado são os títulos emitidos por empresas não financeiras registradas nas bolsas de valores, seus principais ativos são: Debêntures, CRA e CRI.
Público são aqueles emitidos pelo governo federal, no caso brasileiro apenas a União pode emitir dívida pública¹, são emitidos pela interface chamada Tesouro Direto, seus ativos são: LTN, NTN-F, NTN-B, NTN-N Principal e LFT.
Prazo ou Duração e Periodicidade
Essa é a característica mais simples da renda fixa porém, é preciso entender ela a fundo. Como vimos os ativos de renda fixa são uma forma de empréstimo, uma dívida, portanto, como toda dívida ela tem prazo de validade, ela vence, portanto, tem um prazo de vencimento.
Na renda fixa brasileira, quanto maior esse prazo menor será a incidência de Imposto de Renda sobre o lucro da operação.
Acontece que esse prazo em conjunto com a periodicidade e a terceira característica (indexaodr de rentabilidade) é fundamental para determinarmos quanto esse investimento vai render, pois a lucratividade de um ativo de renda fixa é resultado da combinação Prazo, Periodicidade e Indexador de Rentabilidade. No nosso mercado temos ativos de renda fixa com as mais variadas durações, que vão desde 1 dia até 50 anos.
Diante disso, temos Ativos de Renda Fixa em que você recebe um pagamento periódico, chamado de bônus, ao longo da duração do ativo e outros em que você só recebe seu dinheiro mais o lucro no vencimento num pagamento único, chamado de Resgate/Amortização. Pode ocorrer, também, casos em que a dívida é paga em partes ao longo do tempo (amortização) e os juros são pagos também periodicamente (juros).
Essa periodicidade pode variar da maneira que o emissor desejar e pode afetar tanto o pagamento dos bônus de juros quanto das amortizações da dívida. Assim, podemos ter títulos de dívida que pagam Juros mensais e Amortizações anuais até o vencimento, ou, apenas Juros Semestrais e Amortização apenas no vencimento. As combinações são muitas, isso dá a nós investidores a oportunidade de escolher a forma de rentabilidade que mais nos agrada ou a mais adequada ao nosso plano de investimentos.
Além disso, junto do prazo ou duração temos um outro conceito fundamental da renda fixa que anda de mão dadas, a Liquidez. Como se tratam de títulos de dívida emitidos de maneira padronizada pelos emissores, os ativos de renda fixa variam muito, de acordo com as necessidades do emissor, assim, é o emissor que determina o Prazo, o Valor que ele quer – chamado de Aplicação Mínima ou Capital Inicial –, o Indexador de Rentabilidade, entre outras características.
Quando ele define o prazo de duração do título de dívida que ele está vendendo ele também vai determinar a Liquidez do título, ou seja, se você está preso a esse título até o vencimento dele ou se pode encerrar ele antes do prazo. Muitos títulos de dívida podem ser encerrados antes do prazo, ao custo de uma rentabilidade menor, assim como alguns não podem ser encerrados até o vencimento.
Esse é a chamada Liquidez do ativo de renda fixa, ela vai vir escrita como algo do tipo: Liquidez apenas no vencimento ou Liquidez após 1 d.u. (dia útil) ou ainda Liquidez após carência de X dias (tem líquidez diária apenas após um prazo mínimo de permanência, que é a carência). Também é possível estabelecer o horário limite do dia em que o investidor pode pedir o resgate, como até as 12h, senão for respeitado, o resgate só será efetuado no dia seguinte.
Além disso, alguns títulos de dívida podem ser renegociados nas bolsas de valores, ou seja, a liquidez² dele junto ao emissor é exclusivamente até o vencimento, mas, podem ser revendidos para outra pessoa, outro investidor que esteja a disposto a te pagar um valor proporcional no mercado financeiro, ele te paga um valor já corrigido, você lucra um pouco hoje no presente e esse investidor fica com o título para ele, recebendo o restante da rentabilidade no vencimento ou até mesmo revendendo novamente para outra pessoa que esteja disposta a esperar até o vencimento – lembre-se existem títulos com até 50 anos de duração.
Prazo ou Duração: É o tempo de duração que leva para receber o pagamento do título de dívida, podendo ser pago periodicamente com bônus, ou apenas no vencimento com valor atualizado no resgate. Além disso, alguns títulos podem ser resgatados antes do prazo outros apenas no vencimento e, ainda, há aqueles que podem ser revendidos.
Indexador de Rentabilidade
Agora que entendemos que a renda fixa são ativos atrelados a uma dívida e que eles tem um prazo de vencimento, significa que essa dívida tem um custo, assim como quando você empresta de um banco e tem de pagar as parcelas acrescidas de juros, os títulos de renda fixa seguem a mesma lógica. Saber o quanto um título de renda fixa vai depender do seu Indexador de Rentabilidade, é a “taxa de juros” do ativo de renda fixa.
Digo “taxa de juros” porque não é tão preto no branco como as taxas de juros nos empréstimos. O Indexador de Rentabilidade pode ter diversas variantes e três formas de cálculo. Vamos começar entendendo a formas de cálculo.
Formas de cálculo quer dizer a maneira e o momento em que a Rentabilidade do ativo de renda fixa vai ser calculada, ela pode ser:
Pré-fixada A rentabilidade é calculado no início do investimento, podendo ser predeterminada e fácil de prever. Significa que quando você aplica em um ativo de renda fixa pré-fixado você consegue ter 99% de certeza de quanto vai receber, sem surpresas e sem variações. O rendimento dele será predeterminado e fixo até o vencimento/resgate.
Pós-Fixada A rentabilidade é calculada ao decorrer do tempo de duração do ativo de renda fixa, significa que ela varia ao longo do tempo, tornando difícil prever totalmente quanto ele vai render, podendo apenas ser estimado.
Misto A rentabilidade assume uma parcela pré-fixada e outra pós-fixada, normalmente, os pagamentos periódicos de bônus são pré-fixados e o valor atualizado no resgate é pós-fixado.
Variantes são as bases de cálculos que vão determinar o cálculo da rentabilidade do ativo de renda fixa. Pode ser uma taxa de juros fixa, pode ser uma porcentagem de algum indexador financeiro – ou seja, uma porcentagem de outra taxa, por exemplo, 110% da taxa Selic ou Di –, pode ser um índice de Atualização Monetária – índices de inflação como IPCA ou IGPM – ou uma combinação de quaisquer desses. Vamos ver cada um separadamente:
Taxa de Juros Fixa: Quando a rentabilidade é pré fixada, essa é a variante mais comum, o ativo de renda fixa ou o bônus periódico que ele paga é determinado por uma taxa de juros, por exemplo 5% ao ano ou 1% ao mês, já estabelecida no contrato de emissão do título de dívida.
Porcentagem de algum indexador financeiro: Essa variante pode ser pré ou pós, ela vai ser uma % de algum indicador como a Taxa SELIC³ (que é a taxa básica de juros da economia) ou a Taxa Di (que é uma taxa de juros que os bancos cobram entre si e ser proporcional à SELIC). Se for pré, será a % do indicador no dia de emissão do título e permanecerá esse valor até o vencimento. Se for pós, será a % do indicador ao longo da duração do título, se por exemplo, for para calcular o bônus, será a % do indicador no mês de pagamento do bônus, se for para calcular o valor de resgate do título poderá ser a % do indicador acumulado no período até o vencimento do título, poderá ser a % do indicador mês a mês até o vencimento, ano a ano até o vencimento e assim por diante.
Atualização Monetária: Normalmente só ocorre em títulos pós-fixados e são utilizados para calcular o valor de atualização do título no resgate/vencimento. Ocorre da seguinte maneira, um índice de inflação é escolhido pelo emissor, normalmente IPCA ou IGPM, daí, o valor acumulado desse índice entre o dia da emissão do título até a data determinada para atualização de valor do título é calculado, então, multiplica-se esse valor sobre o valor do título e atualiza-se o valor dele. Alguns títulos atualizam seu valor todo mês, outros anualmente ou ainda, apenas no vencimento.
Híbrido: Ocorre quando há a combinação de mais de uma variante. Muito comum de ser a combinação Taxa Pré Fixada mais Atualização Monetária.
Mercado Primário e Secundário de Renda Fixa
Uma coisa que pouca gente sabe é que alguns ativos de renda fixa, como os títulos públicos e privados, até mesmo alguns bancários, podem ser renegociados nas bolsas de valores. Isso quer dizer que o investidor não precisa necessariamente esperar até o vencimento do título de dívida podendo revender ele para outro investidor na bolsa de valores, isso é chamado de Mercado Secundário.
Acontece que em todo tipo de investimentos nós podemos acessar ele por meio do Mercado Primário ou Secundário.
Quando eu compro o investimento e o dinheiro que eu paguei por ele vai diretamente para o Emissor, isso se chama mercado primário. Por exemplo, se eu vou no banco Alpha e faço um CDB dele, o dinheiro foi direto para o bolso do banco Alpha, eu lidei diretamente com o Emissor e financiei a atividade dele. Isso é Mercado Primário.
Agora, quando eu acesso a plataforma da minha Corretora e compro um investimento (com exceção dos Fundos de Investimentos*) diretamente pelo aplicativo (normalmente com valores quebrados, em vez de redondos), eu estou comprando um ativo que já está no mercado na mão de outro investidor. Nesse caso estou no Mercado Secundário.
Quando um Emissor, vai captar recursos emitindo seus títulos de dívida no mercado financeiro (principalmente nos casos de Debêntures, CRA, CRI e LF) ele faz isso por meio de um processo chamado Oferta Pública, na qual ele anuncia o quanto ele quer, em quanto esse valor será dívidido e todas as condições da oferta, prazo de vencimento, indexador de rentabilidade etc. Daí os investidores interessados se cadastram e dão lances para comprar os títulos. Após alguns dias, encerrado o processo, o Emissor recebe se dinheiro, dá os títulos correspondentes aos investidores que fizeram os melhores lances e pronto. O Emissor se financiou e os investidores aplicaram seu dinheiro, tudo isso ocorre no Mercado Primário com a intermediação de uma ou mais Corretoras.
Esses mesmos investidores podem agora escolher se continuam com os ativos até o final do prazo ou se vendem
*ETFs e FIIs podem ter mercado primário e secundário
Observações Finais
Apesar de ser vista como segura e livre de prejuízos, a renda fixa não é um ativo totalmente livre de risco ou impossível de se perder dinheiro. O nome Fixa pode enganar.
Acontece que todo investimento tem riscos, os riscos são inevitáveis, atravessar a rua é um risco, mesmo que você o faça com o sinal verde para pedestres e na faixa, ainda há risco. Portanto, não poderia ser diferente com os investimentos.
No caso da Renda Fixa, por se tratar de títulos de dívida, o principal Risco é do de Crédito, ou seja, a possibilidade do devedor (emissor) não pagar o credor (você investidor). Este é, inclusive, o risco onipresente da economia, todos os investimentos e todos os consumidores, todos os cidadão estão à mercê do Risco de Crédito, pois tudo na economia e no sistema financeiro está atrelado à Dívida Pública e Bancária (mais disso em outro post).
Mas além disso, o investimento em renda fixa tem outros riscos e pormenores.
No caso dos Títulos Públicos temos o risco político que pode afetar as decisões referentes à Taxa SELIC, que afeta diretamente o rendimento dos títulos públicos.
Temos também o risco inflacionário que impacta o rendimento de todos os investimentos, diretamente sobre aqueles com atualização monetária e indiretamente sobre todos os outros (pois investir significa ganhar dinheiro e quando a inflação sobe, tudo fica mais caro, portanto, na prática, todos perdem dinheiro porque perderam poder de compra). Além disso, o risco inflacionário pode afetar a Taxa SELIC, gerando mais incertezas.
Por fim, temos o risco especulativo, ele ocorre com a possibilidade de variação da taxa SELIC (que afeta a Taxa DI) e as expectativas de inflação medidas pelo IPCA e IGPM, afetando diretamente a rentabilidade dos ativos de renda fixa pública, privada e bancária.
O ser humano adora especular e conjecturar, tentar prever o futuro e se antecipar, isso gera instabilidade e volatilidade nos preços dos ativos de renda fixa no mercado e flutuações nas taxas de juros que os emissores vão remunerar, cada tipo de Renda Fixa é afetado de forma distinta pela especulação.
No caso de títulos bancários o impacto da especulação é pequeno, pois a maioria deles não pode ser revendidos no mercado secundário.
Já nos títulos privados, o impacto é reduzido pela questão da liquidez, a maioria dos títulos privados só podem ser revendidos no mercado secundário após o investidor ter segurado o papel por 1 ano. Mas, com certeza as alterações na Taxa SELIC vão afetar os preços desses títulos no mercado secundário, uma subida da SELIC faz com que eles percam valor de mercado (por conta da parcela de Taxa Pré Fixada), ao contrário, uma redução na SELIC causa o efeito reverso.
O mesmo efeito ocorre nos títulos públicos, com maior força nos pré fixados (LTN e NTN-F). O pós fixado NTN-B também sofre com essas alterações por conta da sua parcela de taxa pré fixada. O único título que oscila na mesma proporção da Taxa SELIC é o pós fixado LFT.
Se há uma boa notícia nessa história toda é que sabendo as movimentações do mercado e compreendendo a política monetária, é possível ganhar dinheiro especulando com títulos públicos. Essa é uma lição, na realidade, válida para todo o mundo dos investimentos, se não houvesse risco, inflação e a possibilidade de revender os ativos no mercado secundário, praticamente não haveria lucro em nenhum tipo de investimentos.
Mais sobre Renda Fixa você escuta aqui no nosso Podcast, o PodPoupar!
¹No passado municípios e estados emitiam também, mas era uma bagunça e o alto nível de inadimplência forçou o governo federal a comprar todas essas dívidas e consolidar tudo na dívida federal
²Liquidez tem duas facetas, a da renda fixa que envolve poder resgatar antes do prazo de vencimento e de Econômica, que é definida como: a velocidade com a qual um ativo consegue ser convertido em dinheiro à vista sem perda de valor, para entender melhor esse conceito leia a cartilha de liquidez.
³A Taxa SELIC é determinada em reunião do COPOM pelo CMN, ela é a média das taxas de juros dos títulos públicos, quando ela sobe ou desce, o Banco Central atua no mercado financeiro de títulos de dívidas públicas comprando ou vendendo para alterar o valor médio ou, ainda, o Tesouro Nacional emite novos títulos com uma taxa maior ou menor para alterar a média.
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